quarta-feira, 4 de junho de 2008

Cantiga de passarinho

Se os pássaros voam, é porque há onde voar,
Hão de ressoar se, logo, à alguém há de cantar.

Voam tão longe se há o pousar, mas
Só não voam, aliás, nem consoam, destoam e esboroam,
Se não há de amar.

Pobres são assim os pássaros, na dor, reconhecem-se,
E aqueles que escapam o dilúvio, surdem e desaparecem no ar,
Sem algum ruído, além do céu -

Surdos como cometas.



Por Mal de Drosófila.

Um comentário:

Gabriel Dietrich disse...

Poesias, pra mim, são como que mulheres: difíceis de serem conduzidas, compreendidas e tocadas. O que posso perceber, pela própria estrutura do texto, é que uma série de condições impelem certos acontecimentos. Não chega a ser uma "necessidade histórica" à moda Hegeliana, mas notei alguns tons de uma natureza determinística. Do meu ponto de vista filosófico-humorístico, a querela entre determinasta ou não, é uma tal que permite muito material poético e de tonalidade literária. Se a poesia tivesse uma pretensão de verdade (eu assumo que não tem, pelo menos em primeira instância), nos veríamos em maus lençóis, já que só poderíamos esperar aquilo que estivesse dentro de um escopo de possibilidades previsíveis. Com isso perde-se grande parte da graça de ser ludibriado pelo acaso.