sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Na virada

Abobinável mundo das neves
Onde o coração se deita,
Deita também a mão tísica
Da vida sucinta;
É breve a batida
E o estalar lúdico e louco
Que nos faz viver, ano após ano,
Além de horizontes estranhos,
Borrados e seculares.
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Há muito tempo,
Quando o deleite vira delírio,
O mote da vida
Não nos deixa a glosa
E o alívio não chega
E o fato não é consumado.
Na funda escuridão,
Em um mergulho sincero sobre si mesmo,
Observa rente a si o riso louco
Do mundo, ano após ano.
[]
Não fará coisas boas
Nem contará boas histórias,
A virada do ano chega
Com todas as glórias de eternas promessas
Que morrem tão logo nos primeiros minutos -
[]
Instantaneamentes, como o gole de vinho.
[]
por Mal de Drosófila

Um comentário:

Gabriel Dietrich disse...

Gostei do final, principalmente. "Como o gole do vinho". Interessante.
Parece aqui que temos o absurdo da literatura que deu um dos ponta pés iniciais do pós modernismo, Kafka, CAmus, Sartre, os malditos do absurdo. Eu nunca sei se entendo ou não uma poesia, mas pelo que vejo essa tem uma ligação bem pontual com a outra. Enquanto que aquela ressalta um certo determinismo, essa ressalto o absurdo. Não é a negação de um determinismo só o que está em jogo, mas sim a própria incapacidade do racional permear as circunstâncias. Atos, de linguagem ou vividos, são isolados e sem sentido. A narrativa, por assim dizer, distorce os fatos (que são particulares) pra formar um todo que é congnoscível. Obviamente o problema está em perdermos muito do que costumamos (ou nos habituamos) a chamar de conhecimento, justificativa e legitimidade. Não há hierarqui de teorias, não há hierarquia em nada.
Aceitando isso, aceita-se, em igual medida, as suas consequências, que sabse-se lá quais podem ser.